sábado, 21 de dezembro de 2013

Porto, estação de São Bento




ALBERTO PINTO NOGUEIRA

20/12/2013

Christine Lagarde é a chefe máxima do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Num daqueles momentos de consciência rara que batem à porta da gente do dinheiro, informou que o FMI errara no denominado programa de ajustamento. Uma catástrofe. Corrigir o erro? Pedir desculpa? Não. Os seus empregados continuam na mesma via. O dinheiro pode errar. Persistir no erro! Nada se lhe exige.

Pedro Passos Coelho acha “estranho”. Submete-se. Abana a cabeça. Diz sim a tudo que vem da troika. Assim querem o país. Servo do estrangeiro.

Falar de política é perder tempo. Não devia ser. Falar de política é falar da cidade, da democracia, de direitos de cidadania. Coisa fora de moda! Política tem agora sentido muito restrito, denso: austeridade. Para o trabalho.

Falemos antes de cultura, de arte e mesmo de história. Do Porto. Mesmo na baixa da cidade, situava-se o Mosteiro de São Bento de Ave-Marias, local de recolha de freiras beneditinas.

Aqui, nos fins do séc. XIX a bater no séc. XX, chegou o comboio. Ao Porto, por razões muitas, inclusive sobranceria do poder central e provincianismo do local, tudo chega sempre mais tarde. O que não impediu que o séc. XIX seja, justamente, o século do Porto, com as ideias e lutas liberais, com homens de cultura, com a chegada de novas ideias. Com a França a impor-se através do conhecimento e arte de muitos portuenses.

José Marques da Silva, nascido no Porto nos meados do séc. XIX, estudou em Paris cerca de dez anos. De lá, trouxe novos mundos, conhecimentos, novas concepções da arquitectura. Deixou na cidade muita obra. A Casa de Serralves, o Teatro de São João, o Monumento aos Heróis da Guerra Peninsular.

A Estação de São Bento foi construída no que é hoje a praça do escritor e poeta Almeida Garrett. O projecto é do arquitecto Marques da Silva. Passou por várias fases até que foi inaugurada no ano de 1916. Edifício magnífico na baixa da Invicta. A Estação impera na praça do poeta Garrett. Domina-a. O frontispício traduz uma sensibilidade artística indubitável. Mansardas nos cantos superiores do edifício, com respectivos relógios. Influência francesa.

À noite, é iluminado por inúmeras luzinhas que lhe emprestam uma beleza poética e romântica. Como é o Porto.

Viajante que chega ou parte, encontra-se com a arte que reveste o átrio. Centenas de metros quadrados de azulejos que representam episódios históricos de que sobressaem o de Egas Moniz e sua vassalagem ao rei de Leão, Afonso VII, a Conquista de Ceuta. Episódios do trabalho do povo sobretudo ligados à produção duriense. É a arte do mestre Jorge Colaço.

A gare, com várias linhas, é arquitectura clara da época do ferro. Ferro e vidro. Aquele é solidez. Este a claridade da gare.

Quem sai, à direita, encontra a Igreja dos Congregados. A Rua 31 de Janeiro vem aí desembocar e trazer à memória a revolução frustrada desta data.

Aprecie a Estação, olhe a Igreja, esqueça o edifício em ruínas à saída daquela na esquina com a Rua do Loureiro. Nem o arquitecto Marques da Silva e a Estação de São Bento obrigam os poderes públicos a acabar com tal fealdad
e!

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